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Como já visto em aulas anteriores, foi a partir de Aristóteles que a criação narrativa passou a ter uma base estrutural definida. Para o filósofo grego, narrar histórias era fundamental para entender as artes e a própria humanidade. Em sua perspectiva, as formas de expressão da arte poética fazem uso do onírico com o intuito de nos transportar para outros mundos e para dentro da história:
A imitação de uma ação é o mito (fábula); chamo fábula a combinação dos atos”. (Aristóteles, Poética)
É por meio da “combinação dos atos” que se desenvolve o contexto narrativo em qualquer criação. O enredo é a base das produções, a própria trama da narrativa, isto é, o desenrolar dos acontecimentos. O principal objetivo desse tipo de narrativa é contar um fato, seja verdadeiro ou ficcional. Entender esses princípios será de fundamental importância na elaboração de projetos para mídias interativas, como veremos adiante.
Esse pensamento é complementado pelas teorias de Tzvetan Todorov, para quem a narrativa se constitui na tensão de duas forças, sendo a primeira delas a "mudança, o inexorável curso dos acontecimentos, a interminável narrativa da 'vida' (a história), onde cada instante se apresenta pela primeira e última vez" e a segunda força uma tentativa de organizar o caos, "dar-lhe um sentido, introduzir uma ordem" (TODOROV, 1979, p. 21), que se traduz pela repetição ou semelhança dos acontecimentos.
Não faltam exemplos desse princípio em todos os tipos de registros. Se considerarmos clássicos da literatura como Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, ou Metamorfose, de Kafka, entre outras obras literárias, observaremos que, em todos os casos, a ideia de combinação dos atos construídos a partir da tensão entre forças é a base narrativa das criações. Não será diferente no teatro, com Hamlet ou Sonhos de uma Noite de Verão, ambos textos de William Shakespeare os quais mostram um padrão de reviravoltas envolvendo "o inexorável curso dos acontecimentos" e a tentativa de organizar o caos. Mesmo em textos com características mais experimentais, como O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, ou Esperando Godot, de Samuel Becket, apresentarão, ainda que por vias menos óbvias, uma construção narrativa em que “plot twist”, isto é, uma mudança radical no mundo comum, levará a uma saga e desfecho surpreendentes.
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