Regras

As regras foram feitas para serem quebradas talvez sejam a forma mais primitiva de mecânicas de jogos existentes, pois desde que o homem joga, ele estabelece regras para definir o que é válido ou não. Podemos dizer que as regras são um complemento das mecânicas de ação, elas definem qual o resultado que uma determinada ação tem no mundo do jogo. Além disso, elas determinam o que pode ou não, quando e onde ocorrer. As regras estabelecem uma relação de controle e checagem com todas as outras mecânicas existentes em um jogo e pode ser considerada como a base que dá suporte à jogabilidade. Afinal, já dizia Newton, toda ação tem uma reação!

É comum entendermos os jogos como um sistema de regras. Quando falamos de jogos digitais, costumamos adicionar algo a essa definição: um sistema de regras fechado. Vamos ao exemplo para uma melhor compreensão.

Existe um jogo chamado UNO (ótimo para festas ou falta de energia, por sinal) no qual cada jogador inicia com uma quantidade similar de cartas na mão e o objetivo é descartar todas. No momento em que o jogador fica com uma carta na mão, ele deve dizer UNO, senão será penalizado puxando mais uma carta. Existem algumas regras-padrão no jogo, mas qualquer grupo de amigos podem combinar regras próprias! Ora, se todos estiverem de acordo, pode ser estabelecido que ao baixar uma carta quatro todos devem imitar uma galinha (cacarejando e batendo as asas), sob pena de puxar 10 cartas a mais.

Essa regra não existe no manual do jogo, ela foi acertada pelo grupo de amigos para aquela partida. Logo, o sistema de regras, apesar de definido, é aberto, elas podem ser alteradas facilmente pelos jogadores e isso é possível em praticamente qualquer jogo de tabuleiro/analógico. Já ouviu falar “Fulano é café com leite”? Isso também é uma forma de alterar as regras do jogo para jogadores menos experientes, facilitando a sua participação.

Já nos jogos digitais a conversa é diferente. Como os jogos são programados em software, tudo que for possível (e impossível) de se realizar é definido pela programação da aplicação, e uma vez implementado o sistema de regras, o jogador não pode mais alterá-lo (em tese! Existem jogos que possuem os famosos cheats e permitem que você mude um pouco as regras. Mas são trapaças, não fazem parte do jogo). Dessa forma, o sistema é fechado porque não permite intervenção externa do jogador.

Se, por um lado, isso deixa o conjunto de regras mais rígido, por outro simplifica o trabalho do jogador no tocante ao aprendizado de como o jogo funciona, pois como todas as regras e checagens estão implementadas no computador, o jogador não precisa ficar fazendo verificações à parte ou lendo manuais para saber o que vai acontecer se ele executar uma ação determinada, ele simplesmente faz e observa o feedback proporcionado, reduzindo a quantidade de informações que o jogador precisa para interagir com o jogo.

Uma tarefa fundamental das regras é a definição do(s) objetivo(s) que o jogador deve atingir durante o jogo. Além de definir de uma forma geral o resultado de cada ação dos jogadores, as regras também devem definir quais são as condições de vitória e derrota do jogo. Assim, o jogador tem um norte para avaliar o seu progresso, seja em relação ao objetivo final ou a objetivos secundários menores, que o levam a atingir o estado final do jogo.

É importante que essas condições sejam expressas de forma clara para o jogador, não ocorrendo situações nas quais ele seja surpreendido com uma derrota imediata, por exemplo. Se ele não sabe como alcançar os objetivos (ou nem quais são), logo ele se frustrará e se desmotivará com o jogo.

Uma boa prática é que os objetivos do jogo sempre sejam expressos de forma clara e concisa e, na medida do possível, sejam utilizados recursos visuais para orientar o jogador com relação ao que ele deveria fazer dentro do jogo. Isso pode ser feito através de setas que apontam a direção do próximo objetivo dentro do mapa do jogo, ou com destaques visuais para elementos com os quais ele deve interagir. Claro que esse tipo de orientação deve ser bem dosado, para não privar do jogador o prazer da descoberta dentro do jogo, afinal, quem está jogando é ele, não o computador!