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arrow_back Aula 01 - Introdução ao Game Design

Os escolhidos

Você deve estar se perguntando: – o que é que eu preciso saber fazer para ser um designer de jogos? – Se eu não vou fazer a arte do jogo, então não preciso saber desenhar, confere? Confere sim! – E se eu não vou fazer a programação do jogo em si, também não preciso saber programar, é isso? Exato!

Então para ser designer, eu não preciso saber nada! Confere?

Errado. Muito errado.

O designer possui diversas funções no processo de produção, o que acaba implicando em uma lista de habilidades desejáveis maior do que a muralha da China para as pessoas que irão desempenhar esse papel. A regra é: quanto mais conhecimento e experiência um designer tiver, maior a chance dele construir um bom jogo. Mas antes de despejar uma lista de conhecimentos e áreas de estudo que são interessantes para vocês começarem a estudar e pesquisar, que tal começarmos falando sobre as atividades que o designer desempenha no processo de produção de um jogo?

Então, vocês estão lembrados do processo de produção de jogos digitais? Nós temos várias fases, que vão desde a concepção do jogo até a entrega final do produto (para refrescar a memória, visite a aula da disciplina de Introdução aos Jogos Digitais sobre processo de desenvolvimento de jogos! Eu fico esperando aqui jogando videogame pacientemente).

Vamos ver o que o designer faz em cada uma dessas fases:

  • Concepção: A fase dos campos verdes e floridos, cheios de possibilidades, a qual o jogo ainda é apenas uma ideia. Mas veja bem! Existem casos em que uma empresa é contratada para fazer o jogo sem nem ter a ideia ainda! – Faça um jogo para lançarmos no natal do ano que vem! E boa sorte! Nessa fase o designer é essencial para, junto com uma equipe pequena e focada, definir o que será o jogo e o que a equipe de produção deseja alcançar. Será ensinar alguma lição de vida para o jogador? Ensinar algum conteúdo didático? Treinar alguma habilidade específica do jogador? Diversão? Contar uma história? Ganhar Dinheiro? Todos esses objetivos são válidos, além disso é importante que a equipe de desenvolvimento do jogo tenha bem claro o que ela pretende alcançar.

    Durante essa fase, é comum que sejam realizadas várias reuniões para se trabalhar as ideias, então é necessário utilizar ferramentas e técnicas para trabalhar de forma produtiva, sem criar um ambiente de censura, mas sendo capaz de filtrar as ideias que são boas, viáveis e coerentes. Vamos falar um pouquinho sobre isso na próxima seção desta aula, ok?

    Normalmente essa fase do processo termina com a equipe redigindo um documento contendo um esboço inicial do conceito do jogo. Esse documento é importante principalmente quando a equipe ainda não tem um estúdio para bancar o projeto, porque facilita a comunicação e orientará a apresentação da ideia para possíveis clientes.

    Todo jogo começa de uma ideia!
  • Pré-produção: Aqui começa o trabalho pesado do designer! Tudo precisa ser definido e decidido junto com as diversas equipes que compõem o time de produção. Regras precisam ser criadas, testadas e balanceadas. A temática e os personagens (personagens serão abordados com mais detalhe na disciplina de Criação de Personagens e Narrativas) precisam ser definidos e/ou refinados. Caso o jogo tenha uma narrativa, ela precisa ser trabalhada para dar uma sequência à estrutura do jogo e os cenários precisam ser esboçados! Os níveis ou fases (o design de níveis será visto em detalhes na Aula 8) do jogo precisam ser pensados, rascunhados e testados com relação a vários fatores, como dificuldade, jogabilidade, integração com outros níveis do jogo e com a narrativa desenvolvida. Além disso, é imprescindível que todas as ideias sejam testadas antes de irem para a produção final. Nessa fase, os artefatos do jogo começam a ser criados em suas versões iniciais, então o designer precisa garantir que tudo está sendo registrado e que todos estão cientes do que está acontecendo. As ideias precisam ser discutidas com as equipes específicas que irão desenvolvê-las, de forma que o designer saiba exatamente o que pode ou não ser feito, refinando continuamente os sistemas do jogo.

    A criação de protótipos (prototipação e testes serão abordados com mais detalhe na aula 9) é uma peça importante dessa fase, para que algumas ideias do jogo possam ser mais facilmente testadas e visualizadas. O protótipo não corresponde necessariamente a um artefato digital, podendo ser construído com papel ou maquetes. Sem contar que é mais barato descartar um protótipo do que um artefato em versão final do jogo!

    Durante essa fase são criados os principais documentos que norteiam o desenvolvimento do jogo. O designer é responsável pelo Documento de Design do Jogo (Game Design Document - GDD), contendo uma descrição detalhada de todos os elementos que compõem o jogo (objetivos, descrição, narrativa e personagens, sistemas de regras, ações do jogo, recursos, itens, adversários, descrição dos níveis, etc.).

    O trabalho de um designer não é mole!
  • Produção: Durante a fase de produção, as equipes de produção estão a todo vapor. Como o desenvolvimento de jogos é um processo muito dinâmico, o designer deve sempre estar atento a mudanças feitas em discussão com as equipes (às vezes, uma funcionalidade precisa ser modificada por alguma restrição tecnológica ou porque alguém teve uma ideia melhor!), garantindo que todos os interessados sejam notificados das mudanças. O feedback recebido das equipes é essencial e ajuda o designer a melhorar decisões tomadas na fase de pré-produção. Seu jogo fatalmente passará por mudanças constantes (é praticamente uma regra!): seja para ajustar a dificuldade, para deixar mais divertido ou para melhorar uma mecânica que não está encaixando bem com o restante do jogo ou está “quebrando” o jogo (por exemplo, um jogo cujo personagem adquire um recurso com muita facilidade, como dinheiro ou energia, e faz o recurso perder valor ou um quebra-cabeça que aparece antes do jogador ter todas as peças necessárias para resolver).

    Dentre as tarefas dessa etapa, estão a atualização constante das mudanças que ocorrem durante o desenvolvimento do jogo e comunicação dessas mudanças para todas as equipes do projeto, além da manutenção da documentação de design do jogo. Fora isso, o designer costuma estar envolvido com os ajustes dos sistemas do jogo, garantindo que o jogo está tomando a forma desejada pela equipe e idealizada na fase inicial do projeto.

    E o jogo começa a tomar forma na fase de produção!
  • Testes: Durante os testes, os quais vão ocorrendo ao longo de todo o desenvolvimento do jogo e se intensificam no final da fase produção, o designer deve estar sempre atento ao feedback provido pelas equipes de teste. Essas respostas auxiliam a melhorar vários aspectos do jogo, como a dificuldade, o balanceamento de recursos (balanceamento de jogos será visto em mais detalhe na aula 7), coisas que são legais de fazer no jogo, coisas que estão chatas ou enfadonhas, erros do jogo, problemas com a interface, problemas com a navegação no jogo, etc. UFA! Testes são muito importantes, não acha? Eles salvam milhares de TVs de serem atingidas por controles pertencentes a jogadores enfurecidos porque o jogo "roubou"!

  • Pós-produção: Na fase de pós-produção é só sombra e água fresca… Só que não! Na verdade, vai depender do projeto em que o designer está envolvido. Se o jogo não terá expansões ou conteúdo extra que será disponibilizado via DLC (Downloadable Content), então o designer pode seguir em frente para outros projetos ou descansar um pouco. Caso contrário, continuará envolvido nas atividades de desenvolvimento desses conteúdos. É comum também, nessa fase, que alguns designers e membros da equipe de produção escrevam relatos chamados de post-mortem. Esses relatórios realizam uma avaliação sobre algum aspecto específico do projeto de desenvolvimento do jogo ou uma visão geral de como o processo decorreu. A leitura desses relatos é bem interessante porque contém exemplos e modelos de soluções que deram certo (ou não!), servindo como uma fonte de pesquisa, inspiração e alerta para designers que podem estar passando por situações similares ou que estão prestes a iniciar um novo projeto e desejam evitar problemas conhecidos (ou repetir casos de sucesso). Game over, literalmente!

Nossa! Fiquei cansado só de descrever as funções do designer! Bom, ninguém falou que fazer jogos era fácil. Então, sabendo o que o designer deve fazer, vamos entender o que ele precisa treinar e/ou estudar para desempenhar seu papel de forma satisfatória!

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