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Antes de mais nada: você sabe o que é design de jogos ou game design? Palpites?
Bom… quase isso. Comecemos desmistificando um pouco o termo design. Pare um pouco e reflita: o que é design? É comum que as pessoas associem o termo à atividade de desenhar ou a fazer coisas esteticamente bonitas (exemplo: - Nossa! Aquela roupa tem um design bonito!). Não que os designers não façam coisas bonitas, mas a área de design se preocupa com mais do que isso: o foco principal é em fazer um produto (um objeto, um ambiente, uma imagem ou até mesmo esse material de estudo) pensando em sua funcionalidade e em como ele poderá se tornar mais satisfatório para quem for usá-lo ou interagir com ele! Podemos associar o termo design ao sentido de projetar: o produto é criado para ser intuitivo e fácil de utilizar pelo cliente, e normalmente é moldado para se adequar a um gosto ou estilo específico. Podemos citar alguns exemplos:
Como podemos ver, todos esses designs tentam resolver um problema:
Então nesse caso, o que seria o design de um jogo? Pelo conceito de design, seria projetar um jogo para que ele desempenhe sua função da melhor forma possível para o jogador. É isso?
Sim, em outras palavras, poderíamos dizer que o design de jogos digitais consiste em definir o que é que o jogo vai ser. Entendeu? Nem eu!
Está bem, deixa eu tentar explicar melhor! Vamos fazer uma analogia para facilitar: filmes! Filmes são feitos para nos entreter, contar histórias, nos ensinar e dar informações sobre vários assuntos e, quando bem feitos, mexem com nossas emoções e nos fazem refletir sobre nossos ideais e valores. Para que isso aconteça, existem vários elementos trabalhando juntos e em harmonia: atores que interpretam os papéis (tanto principais como figurantes), um enredo que direciona como a história nos é apresentada, cenários e locações onde as filmagens são realizadas, efeitos especiais, uma trilha sonora para ambientar o filme... Tudo isso ainda é editado e montado de forma que o efeito do filme sobre o telespectador seja potencializado, e que o diretor atinja o seu objetivo alcançando o máximo de pessoas possível.
Assim como os filmes, os jogos também são feitos para nos entreter, ensinar, treinar, contar histórias e permitir que vivenciemos as mais diversas experiências e emoções. Eles nos fazem refletir sobre nossos valores e sobre como podemos fazer diferença em nossa sociedade (bons jogos, pelo menos). E assim como os filmes, eles precisam ser pensados e projetados para que o jogador possa desfrutar dessa experiência da forma mais natural e divertida possível.
Então, o design de um jogo é a mesma coisa que dirigir um filme? Não, e por uma simples diferença: o filme é uma mídia na qual o usuário não interage, apenas assiste passivamente ao desenrolar da narrativa. Dessa forma, a experiência que ele obtém do filme é conduzida pelo arranjo que o diretor fez das cenas e da história contada. Já no jogo, o usuário interage ativamente: ele muitas vezes decide o que, quando e como as coisas vão acontecer. Ele não é meramente dirigido (embora, dependendo do jogo, possa ser que ele se sinta assim!), mas também é responsável pela experiência que ele tem a partir da interação com o jogo. Dessa forma, esse precisa ser pensado e moldado para que o jogador, enquanto interage com o mundo do jogo, possa desfrutar a experiência idealizada e planejada pela equipe que o produziu. Por isso usamos o termo design para jogos!
Resumo da ópera: o design de um jogo corresponde a definir as várias formas como o jogador irá interagir com o jogo, que tipo de coisas ele poderá fazer e como essas ações irão afetar o mundo do jogo. Isso vai desde ações básicas como controle do jogador e objetivos do jogo até interação com outros jogadores e elementos do mundo virtual.
Você deve estar pensando em exemplos, deixe-me ajudá-lo com isso! Acabamos de falar que o design define a interação do jogador com o jogo. Uma das formas de fazer isso é através da elaboração das regras do jogo (o que o jogador pode ou não fazer e quais as consequências disso), que são responsáveis por definir o comportamento dos vários objetos do mundo virtual. A essas regras e sistemas que definem a interação do jogador com o mundo do jogo damos o nome de mecânicas de jogo (serão estudadas com maior detalhe nas aulas 3 e 4). A definição dessas mecânicas é uma das atividades-base do design de jogos.
Tente pensar em um jogo simples, como Pac-man! Você tem um sistema de movimentação para o pac-man, um sistema de movimentação para os fantasmas, um sistema de pontuação, recursos espalhados pela tela para serem consumidos. Cada um desses itens é composto por várias regras:
Ainda existem muito mais regras (cada fantasma tem uma inteligência artificial diferente, a qual faz com que eles andem de formas diferentes), e quanto mais complexo o jogo, maior será o número de sistemas e regras existentes, então dá para ver que não é um trabalho fácil!
Mas o design não trata somente dos sistemas de regras. A experiência e diversão do jogador não depende apenas das regras do jogo, mas também de como os outros elementos do jogo contribuem: como a narrativa apresenta os objetivos e dá significado e importância às ações do jogador; como o visual do jogo mostra o mundo do jogo e os efeitos das ações que o jogador executa nele; como a música e o som vão influenciar e ajudar o jogador a entrar no “clima” da ação do jogo, etc. O quanto o jogador se diverte e gosta do jogo é um resultado de como ele interage com todos esses elementos. Então, é importante que a atividade de design também esteja preocupada em definir esses elementos e, juntamente com as equipes técnicas responsáveis, garantir que a construção do jogo seja feita de uma forma consistente, em que tudo se encaixa naturalmente e faz sentido para quem joga.
Ao longo desta disciplina, vamos mostrar vários detalhes que fazem parte da preocupação diária da equipe de designers de um jogo. Mas que tal falarmos um pouquinho dessa equipe primeiro?
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