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arrow_back Aula 05 - Personagens: Design e Princípios de Criação

Defina quem é a sua personagem

Conforme vimos na aula anterior, os personagens são elaboradas a partir de definições iniciais que determinam seu caráter, suas atitudes, formas de pensar e sua trajetória na narrativa. Ao idealizar o personagem, portanto, o criador deve considerar pontos importantes na construção de sua identidade e forma de agir.

Em termos de game design, salvo nos gêneros que naturalmente abrem mão da figura do protagonista (falamos sobre isso na Aula 02, acerca das impressões de Nic Kelman), é com a performance do personagem que a história será conduzida. Anatol Roselfeld já atribuía essa condição à personagem, ao observar que “é geralmente com o surgir de um ser humano que se declara o caráter fictício do texto, por resultar daí a totalidade de uma situação concreta” (ROSELFELD, 1985, p. 23). Na etapa de elaboração do personagem será necessário, entre outros aspectos, dar atenção à imagem que o descreve, que pode estar baseada em estereótipos ou, como visto a partir de Jung, arquétipos.

Foi na elaboração de seus estudos psicológicos sobre a identidade e individualidade do ser que Carl Jung (1875 – 1961) idealizou as figuras arquetípicas que podemos elencar como a Criança, o Herói, o Mártir, o “Pai do Céu”, a Grande Mãe, o Velho Sábio, a Dama em Perigo, o Malandro (ou raposa), o Diabo, o Espantalho, o Mentor, o Guerreiro e o Protetor do Tesouro. Embora os conceitos básicos de cada elemento tenham relação direta com questões ligadas ao inconsciente da humanidade e cada arquétipo represente uma visão do mundo, diferentes objetivos e significados da nossa existência (vide, por exemplo, a ideia do Guerreiro como força impulsionadora para vencer desafios, ou o Velho Sábio como uma representação do xamã nas sociedades primitivas e um coach da atualidade), suas figuras imagéticas estão presentes na maioria das estruturas narrativas de contos clássicos, da tradição oral à literatura de ficção e games de ação. Com base apenas nestes modelos arquetípicos, o desenvolvedor pode conceber inúmeros personagens ou encontrá-los em várias narrativas e mídias, a exemplo de Galadriel (O Senhor dos Anéis) como a Grande Mãe ou Master Chief (Halo) como o Mártir.

Nenhum arquétipo pode ser reduzido a uma simples fórmula. Trata-se de um recipiente que nunca podemos esvaziar, nem encher. Ele existe em si apenas potencialmente e quando toma forma em alguma matéria, já não é mais o que era antes. Persiste através dos milênios e sempre exige novas interpretações. Os arquétipos são os elementos inabaláveis do inconsciente, mas mudam constantemente de forma. (JUNG, 2002, p. 179).

Veremos agora alguns princípios para nortear a criação de seus personagens.

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