Jogos com histórias associadas

A existência de um tipo de jogo digital com temas paralelos ou transversais ao seu contexto se dá, historicamente, antes da elaboração dos games narrativos como hoje conhecemos.

Em sua maioria, são jogos nos quais o tema surge a partir de outra mídia e passa a ser incorporado conceitualmente, mais do que presencialmente no projeto. Essa proposta se dá maciçamente nos games baseados em contos de fadas, mitologias, desenhos animados e filmes, entre outros. Exemplos são jogos como Smurfs: Rescue in Gargamel's Castle, para ColecoVision e Atari 2600 (1982), Adventure (1979), ET e Raiders of the Lost Ark (ambos de 1982), para Atari 2600, ou Superman (1979).

Em todos esses casos, o contexto ficcional do jogo está dado pela narrativa original das obras criadas, de modo que, mesmo com gráficos extremamente limitados, pode-se saber quem é o herói em Superman, e qual o seu papel na trama, ou o vilão em Smurfs. Em jogos como River Raid (Atari, 1982) ou Knight Lore (ZX Spectrum, 1984), mais do que gráficos identificáveis, parte do universo do jogo se dava a partir da embalagem e até mesmo do marketing da época, que idealizavam um mundo de ação e grandes feitos, levando o jogador a sentir-se o protagonista e herói.

Temos um caso particularmente interessante dessa época com o lançamento de Yar’s Revenge. Dada a limitação visual e de programação para o console 2600 da Atari, a estratégia encontrada para criar empatia no público foi a criação de uma história em quadrinhos que apresentava as razões para a vingança do personagem Yar, figura central da trama. A empolgante história elaborada definia o perfil de ação do jogador a partir de uma motivação então inexistente, mas que ganhava perfil como uma ‘causa’ a ser defendida em nome da honra.

Mesmo no caso de jogos mais modernos, como Tomb Raider, de 1996, a história se presta mais como um motivo para as acrobáticas performances de Lara Croft do que como um roteiro profundamente elaborado. Embora, nesse jogo, outros fatores incidam para aprofundar a experiência narrativa, como a adição de vozes, animações e trilha sonora que ambientam a trama e são facilitadores da imersão do jogador.

Sherlock Holmes: Crimes & Punishments, lançado em 2014 (Figura 2), atualiza em certa medida o modelo dos tradicionais games point-and-click, como Maniac Mansion, de 1987, fazendo o jogador protagonizar a ação do famoso detetive, mesmo o jogo não sendo baseado em nenhuma das aventuras originalmente criadas por Arthur Conan Doyle, mas utilizando-se do universo e da atmosfera da Londres do século XIX. Um dos diferenciais do jogo, que se propõe a oferecer liberdade de investigação ao jogador, porém manter a perspicácia aguda do brilhante personagem, está na forma como elementos diversos se combinam na mente do detetive, levando-o a deduções típicas do herói nos contos, e que facilitam a conclusão dos casos investigados.

Jogo Sherlock Holmes Crimes and Punishment.

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