1 - Pessoas são Diferentes

1.1 - Aspectos Demográficos

Os aspectos demográficos também são muito importantes quando estamos avaliando os diferentes segmentos de mercado. A forma como agrupamos as pessoas em função de grupos de idade ou gênero são exemplos desse tipo de aspecto. E faz sentido, não é mesmo? Uma criança não possui os mesmos gostos ou habilidades de um jovem adulto!

Com relação a faixas etárias, podemos agrupar os jogadores nos seguintes grupos:

• Bebês: eles não sabem exatamente que estão jogando, e os jogos são utilizados normalmente para dar uma folga aos pais (quem sabe um cochilo ou terminar uma refeição em paz). A ideia é fazer algo bastante visual e colorido, sem objetivos complexos: uma bolha na tela que ele estoura e faz um barulho engraçado ou animais nos quais ele pode clicar e escutar os sons. Na verdade, a ideia não é fazer um jogo, mas um brinquedo que possa ser facilmente manipulado. São preferíveis as interfaces de toque, como smartphones e tablets, com boas capas de proteção!
  
• Crianças: as crianças mais novas desenvolvem interesses por jogos propriamente ditos, porém com desafios mais simples, e que possam ser jogados junto aos pais. O que a criança quer mesmo é passar mais tempo brincando com sua família, e os jogos podem ser uma ferramenta para conseguir isso! O momento em que elas estão crescendo e achando que já sabem tudo é o ideal para introduzir alguns desafios mais complexos. Elas gostam de descobrir como se vence um determinado adversário e compartilhar isso com os amigos, muitas vezes para se gabar dos feitos conquistados.
• Adolescentes: nessa fase, os jovens jogadores começam a ter mais autonomia nas suas escolhas e a construir mais fortemente o seu conjunto de interesses e aptidões. Os jogadores mais hardcores começam a dedicar mais tempo aos jogos nessa fase! O desenvolvimento de meninos e meninas ocorre de forma bem diferente, e o mercado desses jogadores já se torna bastante complexo, com uma variedade de gostos e aptidões distintas para serem gerenciadas. Sem contar no turbilhão de hormônios!
• Jovens adultos: para a indústria, esse é um grupo chave! Os jovens adultos trabalham, mas gostam de se divertir jogando. E o mais importante: têm dinheiro e autonomia para comprar jogos e plataformas! No entanto, entre estudos universitários e empregos, os jovens adultos têm menos tempo para jogar do que quando eram livres de responsabilidade. Dessa forma, eles tendem a escolher gêneros de jogos específicos que mais gostam e investem o seu tempo limitado neles. Por isso é tão importante para as empresas de jogos cativar os jovens jogadores adolescentes, uma vez que é provável que eles mantenham os hábitos e gostos de jogos que desenvolveram ao longo da adolescência.
  
• Adultos: as pessoas crescem, conhecem outras pessoas sensacionais, casam-se e começam a construir uma família. Pessoas nesse grupo costumam ter menos tempo para investir em jogos e normalmente buscam opções que possibilitem compartilhar a experiência com toda a família. Jogos casuais (que podem ser rapidamente jogados em pequenos intervalos do dia) ou jogos voltados para um público mais jovem (os filhos!) costumam ganhar mais espaço para esse tipo de jogador. Claro que sempre sobra um tempinho para umas duas partidas de LOL quando os filhos e a esposa estão dormindo!
  
• Adultos experientes: você acha que agora um jogador simplesmente para de jogar? Quando chega a melhor idade, normalmente as pessoas têm mais tempo livre nas mãos: aposentados do trabalho, os filhos já crescidos e formando suas próprias famílias… É curtir os netos, sombra e água fresca! E, por que não, uma bela explorada nos mundos de Skyrim ou Final Fantasy?
  

Quando falamos acerca do mercado de jogos nas aulas passadas, mostramos uma estatística que evidenciava o “envelhecimento” dos jogadores, com muitos representantes nos grupos dos adultos. Isso se deve ao fato de que o hábito de jogar foi estabelecido durante a juventude e passou a ser uma atividade de lazer natural das pessoas, o que não era tão comum no início da indústria. Convenhamos, uma indústria que começou em 1970 é muito nova! Ainda estamos no início dela!

Mas nem só por idade se dividem as pessoas. Vamos falar agora sobre as diferenças entre os gostos de meninos e meninas! Vamos fazer isso com… uma tabela!

Já deu para ver como os perfis são diferentes? Eu não inventei essa tabela não, ela é resultado de várias pesquisas de opinião realizadas ao longo dos anos, por várias instituições, com o objetivo justamente de traçar o perfil dos jogadores e entender as necessidades do mercado (para mais informações, deem uma lida nas referências, principalmente no livro do Schell e nos artigos nos sites do Engadget, UsabilityNews e QuanticFoundry). E não é que algumas coisas dessa tabela fazem sentido? Por exemplo, os primeiros jogos não tinham muitos atrativos para as jogadoras: eram baseados em desafios de navegação espacial, com foco em destruir coisas, e havia um ranking para que os jogadores pudessem colocar seu nome e competir pelos melhores resultados. Talvez por isso é que no começo só havia menino jogando!

Essa tabela nos permite entender algumas preferências tidas pelos gêneros de jogos: um jogo de FPS provavelmente apela mais para o público masculino do que para o feminino, enquanto que um jogo de RPG tende a agradar bastante as jogadoras. E é justamente isso que a pesquisa do site Engadget aponta (https://www.engadget.com/2014/10/27/report-men-play-more-mmos-fpses-women-rule-mobile-rpg/). E mais: dentro de um mesmo gênero de jogo, mulheres tendem a ter um estilo diferente de jogar do que os homens. Por exemplo, em jogos de FPS, as jogadoras preferem um estilo Sniper (tiro a longa distância) e furtivo, que envolve mais planejamento, enquanto os homens adotam o estilo Run-and-Gun, que consiste basicamente em sair correndo feito um doido para cima dos inimigos, com combates mais próximos, mais baseados em reflexo do que em planejamento.

Mas… se os perfis são tão diferentes assim, como existem jogos que tanto meninos quanto meninas gostam e ainda são um sucesso geral? Vamos pegar um exemplo? Já jogou LOL?

League of Legends é um jogo do gênero MOBA, muito conhecido por ser um dos principais jogos de e-sports da atualidade. Ele é altamente competitivo: times de jogadores devem lutar entre si para destruir a base inimiga e vencer a partida. Porém, dentro de um mesmo time, os jogadores devem colaborar para alcançar esse objetivo. Percebeu o segredo? Os designers estão tentando agradar aos dois segmentos, com elementos que são atrativos para ambos!

E isso não se limita apenas a esse formato de jogo: os personagens do LOL têm diferentes papéis, que se adaptam a vários estilos de jogo. Quer ser um guerreiro fortão como o Garen, que sai destruindo tudo no seu caminho? Sem problemas! Quer ser uma atiradora de elite como a Ashe, que elimina os adversários de uma distância segura? Tranquilo! Quer ser um mago com poderosos feitiços tal qual o Ryze, que consegue atacar uma multidão de adversários ao mesmo tempo? Também dá certo! Quer ser uma curandeira como Sona, que ajuda seus amigos a permanecerem saudáveis enquanto batalham as hordas inimigas? Tudo bem! Dessa forma, o jogo consegue agradar aos mais distintos gostos, tornando-se um sucesso com grande público.

Esse foi apenas um exemplo de jogo feito para agradar a uma grande massa de jogadores, englobando vários segmentos de mercado. Elementos como narrativa, uso da criatividade, capacidade de expressão e socialização são fortes atrativos, tanto para homens quanto para mulheres, e são a chave para se construir uma experiência que seja igualmente divertida para os dois grupos!

Ufa! Esses foram os elementos demográficos. Mas existe um espectro de análise que é, talvez, mais importante do que a demografia do mercado: os aspectos psicográficos. Eles se relacionam ao comportamento e à forma como as pessoas pensam e se motivam. Daremos uma olhada neles na próxima seção!