Outras características

A criação de personagens exige mais do que apenas princípios do Bem e do Mal e suas motivações. Todas as características de criação devem ser pensadas, de modo que o produto oferecido não seja fruto do acaso, mas resultado de intenções que o criador deseja que fiquem claros para a audiência.

Dessa forma, figuras como Neo, de Matrix, ou Lara Croft, para ficarmos em apenas dois exemplos, são produções elaboradas que pretendem cativar o público tanto por suas posturas e comportamento, quanto pela apresentação visual. De fato, o design dos personagens é um dos pontos mais importantes em sua etapa de concepção. Não por acaso, figuras como Darth Vader e Space Invaders são ainda hoje ícones culturais claramente identificados e responsáveis pela longevidade de suas respectivas marcas.

Concept Design

A etapa de concept art do personagem é uma das mais importantes, pois é esta que deverá definir o sucesso ou não de um projeto e sua viabilidade como franquia no mercado de games. O caso de Lara Croft, aqui já abordado brevemente, é singular, por apresentar um insight criativo e diferenciado da produção usual da época, como afirmou o produtor Adrian Smith, da Core Design, ao contar que buscavam por um design diferenciado para a época (ZIESKE, 2003).

Outras criações como Big Daddy, de Bioshock, ou Sonic, o porco-espinho da Sega, são talvez os exemplos mais reconhecidos dessa vertente criativa. No Brasil também temos personagens cativantes, como o demônio de Freakscape ou Fausto, o anti-herói de Soul Gambler, entre outros. Moonchild, a jovem heroína que protagoniza o game Toren, do estúdio Swordtales, também é um exemplo de concept art bem-elaborado. Você saberia avaliar e responder o porquê?

Aspecto físico

O aspecto físico de seu personagem é resultado direto do design concebido para o projeto, determinando a atitude do herói. Como já vimos, os heróis são normalmente atléticos e viris e os vilões são, em sua maioria, física ou mentalmente deformados e esquisitos, para causar estranhamento e repulsa no público, que não deverá se identificar com ele.

Em linhas gerais, convém saber a importância das formas básicas no referencial imagético da criação de personagens. Os personagens desenvolvidos para o público infantil são usualmente mais suaves e arredondados em suas formas.

Formas quadráticas e angulosas tendem a se relacionar a objetos inanimados, como máquinas e robôs, como vemos em Transformers ou no T-800. Dick Tracy, o detetive, é uma exceção: seu queixo duro é um traço da justiça implacável, uma característica herdada do arquétipo de virilidade masculina. Nas animações para TV de Batman e Superman, também é possível notar essa característica.

As formas elípticas e angulosas para o alto são alusivas a uma característica mais voltada à espiritualidade e transcendência. As pirâmides são bons exemplos disso, assim como as torres das igrejas góticas e a adoração a Deus, quando as mãos dos religiosos se voltam para cima em busca de orientação divina. Alguns personagens são criados a partir dessa forma, para mostrar seu vínculo com a imortalidade ou transcendência. Em Matrix 2 e 3, o personagem Neo usa uma indumentária diferente do primeiro filme, composta de um casaco que se abre na base com uma enorme capa ou túnica papal.

Os personagens bufões costuma ter formas que induzem ao humor, como alienígenas de cores berrantes, bebezões, animais com deformidades ou outros detalhes, como botinas exageradas, carecas lustrosas, dentes tortos etc.

Tipos de heróis

O Benfeitor ou Altruísta: coloca sua missão e a segurança dos menos favorecidos acima de outras questões. Ex: Superman, Batman, Sr. Incrível, Cristo, 3 Mosqueteiros, Zorro, Buzz, Capitão América;

O Herói Vingador: Seu objetivo é vingar os malfeitos do vilão contra o mundo. Ex: Conan, Justiceiro, Batman, Robin Hood, V (de V de Vingança), Willian Wallace (herói escocês), Wolverine;

O Mártir: O herói que se doa pela causa. Ex: Neo, Ben Kenobi, Gandhi, Cristo, T-800 (de T2);

O Herói Sagaz: Sem fazer uso da força, o herói se mostra mais inteligente que os vilões, livrando o mundo da ameaça iminente. Ex: Tin Tin, Asterix, Flic (de Vida de Inseto), Batman (o Detetive), Alexandre, o Grande;

O Conquistador: Parte para uma jornada de conquista e vitória. Ex: Ulisses (de Odisséia), Conan, Alexandre;

Herói improvável: Aquele que ninguém espera uma virada para vencer a grande ameaça que se aproxima, como Cinderela ou o Patinho Feio. Normalmente, são também tratados como o anti-herói. Ex: o jovem Rei Arthur (antes de tirar a espada Excalibur da pedra), o Demolidor, Luke Skywalker, David (de Golias), Frodo, Alladin, Peter Parker etc.

Tipos de vilões

O Cientista Louco: seu objetivo é enriquecer, dominar o mundo ou vingar-se por alguma fatalidade do passado. Ex: Syndrome (de os Incríveis), Dr. Octopuss, Sephiroth (FFVII);

O Gênio do Mal: Detém superinteligência, mas a utiliza para fins escusos, como a criação de uma super-raça, dominação da economia mundial etc. Ex: Lex Luthor, Palpatine, a Matrix etc;

Super Vilão: deseja dominar o mundo, para fins nem sempre claros para o público, a não ser o exercício do Poder. Ex: Darkseid, Galactus, Brainiac, Robotinik (de Sonic), Dr Evil (de Austin Powers);

Femme Fatale: Normalmente sua presença se dá nas tramas com o objetivo de seduzir o herói ou tem fascinação por joias e ouro. Entre os tipos de vilão mais comum é o que tem menos profundidade psicológica ou motivacional. Ex: Mulher-Gato, Mística, Hera Venenosa, Terminatrix (de O Exterminador do Futuro 3), Serleena (Homens de Preto 2).

Uniformes

A origem do uniforme colante dos heróis está ligada à ideia de espetáculo e se baseou inicialmente nos quadrinhos, a partir da figura imagética dos artistas circenses. Um dos primeiros exemplos do gênero deu-se com a criação do Fantasma, personagem de Lee Falk, em 1936. Superman (1939) manteria essa característica e também Mandrake (1941), do mesmo Falk, claramente baseado nos mágicos de circo com seus poderes místicos.

Mais tarde, para manter os prazos de publicação dos quadrinhos e os custos baixos, os artistas mantiveram essas características simples no visual dos heróis, mais fáceis de desenhar, eliminando detalhes e texturas. As cores eram igualmente primárias pelas limitações das possibilidades de impressão.

Símbolos

É o elemento que torna o herói facilmente identificável para os vilões, as vítimas e também para os leitores, espectadores e jogadores. Em termos mercadológicos, o símbolo do herói tem importância estratégica para as vendas de produtos com merchandising.

Ambientação

Muitas produções ficaram famosas por suas ambientações únicas, como a Matrix cinematográfica, o universo distópico de obras cinematográficas como Blade Runner e Akira ou literárias como Neuromancer e inusitadas como as criações de Super Mario Bros, Sonic The Headgehog, Bioshock ou Final Fantasy. A criação de um mundo denso e consistente auxilia no processo de suspensão da descrença (vide Coleridge, na aula 1) e na imersão voluntária na realidade ficcional dos games.