Princípios da Criação de Personagem

Imagine um herói. Qualquer um. E um vilão. O que eles terão em comum com outros heróis e vilões que você conhece?

Os heróis terão, provavelmente, corpo atlético, serão implacáveis na defesa do Bem e na manutenção da Justiça, terão um uniforme, presença magnética, etc. Os vilões raramente parecerão cidadãos exemplares, elegantes, confiáveis e defensores de valores aceitos pela sociedade como exemplo para os filhos. Embora haja muitas nuances (como veremos ao longo de nossas aulas), via de regra as figuras do Herói e do Vilão seguem um padrão maniqueista, que permite ao público perceber rapidamente suas identidades e objetivos. Essas representações são também parte do modelo arquetípico de personagens do imaginário coletivo, da mesma forma como anjos remetem à ideia de beleza e bondade e ogros a um comportamento bestial e perigoso.

Etimologicamente, o termo “herói” derivado do grego hero, que significa “pessoa boa, com carisma e moral divino”. A palavra “vilão”, derivada do latim vila, está vinculada ao preconceito existente no princípio da era medieval europeia, significando “camponês” ou “pessoa sem refinamento, não pertencente à nobreza”. Essa ideia reforçava a diferença entre classes, pois só os nobres podiam se tornar cavaleiros e realizar feitos heroicos. O termo acabou associado à ideia de personagem cruel e maligno, que confronta o herói.

A partir dessas definições, analisaremos brevemente o modelo básico da construção de heróis e vilões para todas as mídias, da poesia clássica aos games, e, em seguida, serão apresentadas figuras adicionais que compõem esse universo criativo e, eventualmente, fogem dos modelos arquetípicos tradicionais conhecidos, apresentando variações de forma e conteúdo.

3.1 - Herói

O herói tem padrão de força e beleza escultural helenística, normalmente filho dos deuses ou com alguma ligação não identificada com o sobrenatural, que se revelará por meio de profecias ou com a intervenção de mentores. Possui habilidades supra-humanas e forte senso de justiça e respeito às leis. Faz uso de uma identidade secreta para garantir a segurança dos seus protegidos. Realiza os feitos heroicos da trama e justiça com as próprias mãos. Cresce longe dos pais ou desconhece seu passado. Sempre tem um ponto fraco, como o calcanhar ou a kriptonita; se recusa a matar seus oponentes; a amada está sob constante perigo e ameaça; tem um inimigo jurado que tudo fará para derrotá-lo, entre outras ações. Sua jornada será sempre de muito sacrifício e sofrimento em prol do bem maior.

3.2 - Vilão

Alguns autores consideram o vilão mais importante que o herói e o tema central da trama. Sem ele, afirmam, o protagonista seria incapaz de realizar seus feitos heroicos. O vilão também é visto, em alguns casos, como portador de um refinamento exagerado ou fazendo uso de vestimentas bizarras (vide Coringa, Drácula, Kingpin, Lex Luthor, Dick Vigarista, o Pinguim, Jafar etc.); são reconhecidos por sua elevada soberba e detêm alguma característica marcante e repulsiva (Lex Luthor, Violador, Freddy Krueger, Alien, Jabba the Hutt, Medusa, Gremlins, Hannibal etc.); suas risadas sinistras indicam sinais de demência; são inteligentes e brilhantes na elaboração de planos, não medindo esforços para suas realizações.

Os vilões tradicionais também são famosos por arregimentar um auxiliar abobado ou uma assistente sensual, que são peças fundamentais para o desenrolar da trama, explicando para a audiência o funcionamento do plano. O vilão é o grande responsável pelas perdas do herói, mas nunca o elimina. Via de regra, é sempre punido no final, seja fugindo, indo para a prisão, morrendo tragicamente ou perdendo seu poder.

Heróis (acima) e vilões (abaixo) dos videogames.

3.3 - Antagonista

É um personagem que difere do vilão, pois não tem necessariamente uma natureza maligna, fazendo apenas o papel de rival. Exemplos notáveis são Harry Osborn com Peter Parker na disputa pelo amor de Mary Jane e J. J. Jameson, editor do Clarím Diário, antagonizando com o próprio Homem-Aranha, Snape e Draco Malfoy com Harry Potter, ou Darth Vader, que segue a liderança do Imperador Palpatini em Star Wars. A presença do antagonista se dá especialmente pelo fato de responder pelo traço de humanidade do herói, que passa a ostentar problemas cotidianos, uma espécie de “jornada de sofrimento” da vida real.

Não faltam exemplos antagonistas nas várias formas de ficção, inclusive nos games, certamente você tem muitos exemplos a mencionar! Uma dica: converse com seus colegas no fórum sobre esses personagens, seus “poderes” e manobras para atrapalhar o herói, você conhecerá muitos outros antagonistas que estão espalhados por aí!

3.4 - Anti-herói

É o personagem que viola as leis e as convenções sociais, não se importando em desagradar os parceiros e os padrões vigentes em nome da justiça. Sua obsessão pela justiça ou por seu objetivo final pode levá-lo a cometer atos ilegais ou reprováveis. Bons exemplos de anti-heróis são Wolverine; o Justiceiro; Batman; Robin Hood; Electra; Spawn; Dirty Harry; John McClane, herói da série de cinema Duro de Matar; Jack Sparrow, em Piratas do Caribe; Hitman, o assassino 47; Ben, protagonista do adventure Full Throttle; Kratos, de God of War etc.

A figura do anti-herói tem sido predominante nas produções culturais da atualidade, em parte pelo cansaço da audiência pelos heróis “bonzinhos” e ingênuos. Dessa forma, personagens tradicionais como James Bond e Superman, que sempre apesentavam um comportamento distinto, vêm mudando com o tempo. Em “O Homem de Aço”, Superman protagoniza o extermínio do General Zod, subvertendo um comportamento exemplar que o acompanhou por toda a existência.

3.5 - Sidekick

É o personagem que acompanha o herói em suas batalhas, podendo ser mais de um ou uma equipe na qual o herói fará sempre o papel de protagonista. O mais famoso entre os personagens parceiros é Robin, que acompanha Batman. Estes heróis “paralelos” normalmente divergem dos procedimentos ou motivações dos heróis, indicando um contraponto narrativo, colocando em cheque a percepção de verdade e justiça não apenas do herói, mas também do público, criando densidade à trama.

A presença de um herói acompanhante é de grande importância também para a construção de tensão dramática, ao ser posto em situações de perigo ou morte, gerando motivações adicionais e conflito no herói, que pode se culpar pelo ocorrido. Nos games, os personagens que acompanham o herói são sempre úteis, como visto em Sonic & Knucles, por exemplo. Outros sidekicks famosos nos games: Rush, de Megaman; Kazooie, de Banjo-Kazooie; Cortana, em Halo; Tifa, em Final Fantasy VII; Diddy Kong, em Donkey Kong Country; Garrus Vakarian, em Mass Effect; Yoshi, em Super Mario World, e Luigi, em Super Mario Bros.

3.6 - Bufão

Os personagens bufões, como a própria denominação sugere, são elementos de contraponto para aliviar a carga dramática de uma obra de ficção. Podem vir na forma de anões, sátiros, criaturas mitológicas, palhaços, robôs etc.

Sua participação é quase sempre pontual nas tramas e, não raro, decisiva, como mostra, por exemplo, a atuação de R2D2 no início de Star Wars – Uma Nova Esperança, levando o holograma da Princesa Leia e deflagrando toda a insurgência rebelde contra o Império. Nos games, temos figuras como Sam & Max, Jak e Daxter ou Yoshi, de Super Mario Bros.

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