Cursos / Automação Industrial / Controle de Processos / Aula

arrow_back Aula 10 - Sistemas de controle de processos - MPS-PA - Estação compacta

Bomba como Atuador

Utilizando a bomba como atuador, foi feita uma configuração específica com as válvulas manuais da estação MPS-PA, isso permite que o líquido trafegue por uma parte da tubulação da planta e que encha o tanque sem passar pela válvula proporcional. De certa forma, procurou-se o menor caminho de circulação para o líquido até chegar ao tanque desejado sem passar pela válvula proporcional.

Neste momento, o primeiro passo a ser feito é a obtenção do modelo do processo, para que seja possível o cálculo dos parâmetros do controlador. Sendo assim, inicialmente foi aplicado um sinal em degrau de 85% na bomba centrífuga, ou seja, 85% de 24 V que é a tensão máxima suportada pela bomba, e observou-se onde o líquido estabilizou no tanque, após essa estabilização foi aplicado um degrau de 95% no instante de 200s. A resposta desse teste dinâmico (a evolução do líquido no tanque) em porcentagem do nível medido pode ser observada na Figura 15.

Resposta do sistema de nível em malha aberta utilizando a bomba como atuador.

Nota: Os sinais provindos do sensor ultrassônico (sinais analógicos) de 4–20 mA (proporcionais ao nível medido) são enviados para a placa da planta didática, esta se encarrega de converter para 0–10 V DC, que é o sinal elétrico que a Easyport consegue ler e daí é enviada para o Matlab/Simulink através da comunicação OPC.

Veja que na Figura 15 a resposta apresenta ruídos de medição, então o natural é fazer uma média dos pontos onde o nível apresenta-se estável, esses pontos (os dados do sensor) são disponibilizados pelo Matlab. Também algo a ser observado é que o sistema não apresenta atraso de transporte (θ), pois no momento em que o degrau é aplicado (em 200s) o sistema começa a reagir, logo θ=0.

Calculando o ganho do sistema, que é numericamente igual ao quociente entre a variação do nível e a variação do degrau que ocasionou a variação no nível, temos:

$$ k = \frac{\Delta N}{\Delta U} = \frac{\text{Variação de Nível}}{\text{Variação de degrau}} = \frac{N_2 - N_1}{U_2 - U_1} = \\ \frac{27,69 - 19,04}{95 - 85} = \frac{8,65}{10} = 0,865 $$

Em seguida, iremos calcular a constante de tempo (τ), que é o tempo a partir do início da perturbação na variável de controle (degrau na bomba), descontado o tempo morto (neste caso, 0), em que a variável controlada (o nível no tanque) já atingiu 63,2% (algumas vezes arredondado para 63%) da variação total até o novo regime permanente. Logo é o tempo para atingir: 0,632 x ∆N = 0,632 x (N_2-N_1). Assim,

$$ 0,632 * \Delta N = 0,632 * (N_2 - N_1) = \\ 0,632 * (27,69 - 19,04) = 0,632 * 8,65 \approx 5,46 $$

O valor 5,46 corresponde a 63,2% da variação do nível, no entanto, devemos somar esse valor com N_1, pois no início da resposta dinâmica na Figura 15 o tanque não estava vazio, e olhar no gráfico o instante de tempo que corresponde a essa soma, subtrair o intervalo de tempo antes da aplicação do degrau e desta forma encontramos τ.

$$ 5,46 + N_1 = 5,46 + 19,04 = 24,5 $$

A partir da Figura 15, o instante de tempo que corresponde a 24,5 é 297 segundos, sendo assim, tem-se:

$$ τ = 297 − \text{intervalo de tempo antes da aplicação do degrau} \\ = 297 − 200 = 97s $$

Dessa forma acabamos de determinar o modelo do processo, que corresponde a um processo de primeira ordem sem atraso, onde K=0,865 e τ=97.

O tempo de resposta do sistema é consideravelmente lento devido à bomba dos tanques não ser muito adequada para o tamanho deles, por isso foi aplicado um sinal em degrau a partir de 85% da tensão máxima suportada pela bomba. Para degraus mais baixos do que os utilizados, quase que não há bombeamento de líquido algum.

Como a resposta do sistema de nível em malha aberta não apresenta atraso de transporte podemos utilizar o método de sintonia do Modelo Interno (IMC), o qual foi estudado na aula 05. Para os nossos propósitos, um controlador PI (paralelo clássico) será adequado.

No método do IMC um único parâmetro deve ser projetado e/ou ajustado (λ), que é o critério de desempenho desejado para o sistema em malha fechada. Usualmente, escolhe-se esse parâmetro menor do que a constante de tempo do sistema em malha aberta com o objetivo de deixar o sistema mais rápido. Essa escolha do parâmetro λ é baseada na própria resposta do sistema em malha aberta. Naturalmente, se um sistema é lento por natureza, não se deve escolher um λ muito menor do que a constante de tempo do sistema, pois isso poderia resultar em uma ação de controle extremamente elevada, o que possivelmente danificaria algum equipamento ou o próprio dispositivo de controle não seria capaz de disponibilizar a ação requisitada.

Em alguns processos, o λ pode ser escolhido de maneira mais conservativa (λ maiores), ou seja, igual à constante de tempo dominante do processo (maior constante de tempo).

A Tabela 1 apresenta a sintonia do método IMC supondo um sistema que possa ser representado por uma dinâmica de primeira ordem sem atraso, ou seja, um sistema com ganho K e constante de tempo τ.

Controlador $K_{p}$ $T_{i}$
PI $(\frac{t}{K * \lambda})$ $\tau$
$K_{p}$ $T_{i}$
$(\frac{t}{K * \lambda})$ $\tau$
Tabela 1 - Tabela de parâmetros para o método do IMC.
Campos e Teixeira (2010).

Para uma sintonia inicial, foi escolhido um λ de 20% menor do que a constante de tempo do sistema em malha aberta. Desta forma,

$$ \lambda = \tau - 0,2 * \tau = 97 - 0,2 * 97 = 97 - 19,4 = 77,6 $$

Sendo um pouco conservativo, arredondamos o valor de λ para 78. Com isso, a partir da Tabela 1 é possível calcular o parâmetro $K_{p}$ (depende de λ) de sintonia do controlador PI:

$$ k_{p} = \frac{\tau}{K * \lambda} = \frac{97}{0,865 * 78} = \frac{97}{67,47} \approx 1,44 $$

Nota: Em todos os casos estamos sempre fazendo arredondamentos ou aproximações (geralmente para valores maiores do que os calculados), às vezes devemos tomar cuidado com esse tipo de operação para não aparecer grandes divergências nos resultados, posteriormente.

Para encontrar o parâmetro $T_{i}$, tem-se:

$$ T_{i} = \tau = 97 $$

A Figura 16 apresenta o resultado do sistema em malha fechada para essa sintonia de controlador, onde o setpoint foi de 20%.

 Resposta do sistema de nível em malha fechada com $K_{p}=1,44$ e $T_{i}=97#. Bomba como atuador.

Na Figura 16, embora o líquido tenha conseguido estabilizar no nível especificado, a resposta apresentou um transitório consideravelmente lento. Na tentativa de deixar o sistema um pouco mais rápido, o conveniente é ir alterando apenas um dos parâmetros do PI por vez (até se conseguir uma resposta desejada), dessa forma foi diminuída a ação integrativa do controlador. A resposta pode ser observada na Figura 17.

 Resposta do sistema de nível em malha fechada com $K_{p}=1,44$ e $T_{i}=85$. Bomba como atuador.

Nota: Quando um determinado sistema em malha fechada não se comportar como esperado para os parâmetros do controlador calculados inicialmente, o profissional deve ter uma sensibilidade com a alteração dos parâmetros de sintonia para se obter uma resposta mais adequada, isso a partir da observação da resposta com a sintonia inicial.

Como observado na Figura 17, a alteração no parâmetro $T_{i}$ resultou em uma resposta mais rápida e sem sobressinal (compare os resultados dos gráficos). Pensando em deixar a resposta ainda melhor, onde o nível do líquido chegue a sua referência o mais rápido possível e sem overshoot. Além disso, foi feita também uma alteração em $K_{p}$. O resultado pode ser visto na Figura 18.

Nota: Lembre-se de que em um controlador PI, para que a resposta do sistema seja mais rápida, aumenta-se a ação proporcional ($K_{p}$) e diminui-se a ação integrativa ($T_{i}$). Tais alterações não devem ser muito grandes, pois isso poderia instabilizar o sistema.

Resposta do sistema de nível em malha fechada com $K_{p}=2$ e $T_{i}=85$. Bomba como atuador.

Analisando a Figura 18, podemos concluir que com a nova sintonia conseguimos alcançar a resposta desejada.

Versão 5.3 - Todos os Direitos reservados