O que é Game AI?

Por que mais uma classificação? A IA tradicional não é a mesma IA aplicada em jogos?

Sim, de fato é, porém, há um movimento recente entre os profissionais e pesquisadores da área de jogos em diferenciar a definição de IA que foi apresentada de algumas das técnicas consideradas na implementação de IA nos jogos. Por exemplo, em muitos jogos, os personagens controlados pelo computador não possuem um comportamento que se possa julgar como “inteligente”. Eles são muitas vezes previsíveis, com padrões e procedimentos bem definidos, sem a característica básica de aprendizagem e adaptação do ser humano. Nesse caso, a estratégia de IA implementada para reproduzir o comportamento do NPC pode ser extremamente simples, muitas vezes não sendo considerada como uma técnica de IA tradicional. Apesar da simplicidade, considera-se, ainda assim, o algoritmo que governa o comportamento do personagem como uma técnica de IA.

Veja, diferentemente da IA tradicional, o objetivo de uma IA em um jogo não é resolver problemas do dia a dia, nem entender e reproduzir o conceito de inteligência ou consciência em uma máquina. O objetivo é outro, é fazer com que os jogadores se divirtam! Simplesmente isso! Ou seja, a IA utilizada em jogos preocupa-se primordialmente em tornar um jogo divertido, independentemente da complexidade da técnica utilizada. Porém, isso não impede que as técnicas de IA tradicionais sejam usadas nos jogos, pelo contrário! O uso de técnicas de IA são extremamente bem-vindas em um jogo, desde que:

Por causa dessa diferença fundamental de objetivos, foi criado um termo para diferenciar os estudos da IA tradicional da IA aplicada em jogos digitais, o qual se chama de Game AI (do inglês Game Artificial Intelligence). Dessa forma, Game AI objetiva pesquisar e desenvolver algoritmos e técnicas que implementam, para cada jogo, o grau de inteligência necessário para torná-lo divertido. Nem mais, nem menos, apenas o suficiente.

Diferentes jogos podem requerer diferentes graus de inteligência... ou ilusão de inteligência. Há jogos que demandam o uso intensivo das técnicas da IA tradicional, através de representação de conhecimento, de mecanismos de inferências ou reconhecimento de padrões. Por exemplo, no jogo Creatures, de 1997, o jogador tinha o objetivo de criar seres alienígenas chamados Norns, desde bebês até a sua fase adulta. Como todo bebê, os Norns eram curiosos e queriam descobrir o seu habitat, que era repleto de perigos, como objetos e plantas os quais podiam fazer-lhes mal; até criaturas inimigas, que os atacavam. O jogador deveria, então, educar os bebês Norns, fazendo-os aprender o que se podia fazer e o que evitar. Inclusive, ensinar nomes de objetos e de outras criaturas para que pudessem melhor dialogar com os Norns. E com essas técnicas o jogo fica bem mais interessante!

Esse é um exemplo no qual foram usadas técnicas de IA tradicional, no caso redes neurais, para implementar o aprendizado dos Norns.

Vídeo 02 - Abertura do jogo Creatures Fonte: GLITCHFINDER. Creatures one: introduction. 2009. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VLEZFgkyhUw. Acesso em: 28 mar. 2018.

Outros jogos utilizam mecanismos similares, como é o caso do jogo Kinectimals, que a Microsoft desenvolveu em 2010 para explorar o potencial de interação do Kinect. Nesse jogo, voltado ao público infantil, o jogador pode ensinar alguns movimentos para seus pets virtuais.

Enfim, apesar da indústria de jogos ter procurado utilizar cada vez mais técnicas que permitam comportamentos mais realistas dos seus personagens, ela não tem deixado de lado técnicas consideradas simples, mas que podem prover horas e horas de diversão.

Tome como exemplo um dos jogos mais famosos e rentáveis da história: Pac-Man. Apesar da idade, criado em 1980, atualmente, ele ainda é jogado, com versões para PS3, Wii e Xbox 360. Nesse jogo, o jogador controla o personagem principal, o Pac-Man, e o computador controla quatro fantasmas que o perseguem dentro de um labirinto. Cada fantasma tem um mecanismo bastante simples de comportamento, definido por apenas dois estados: caçando o jogador ou fugindo dele. Apesar de simples, o comportamento associado à mecânica do jogo permite uma experiência divertida, e isso é muito mais importante do que um comportamento complexo que às vezes pode trazer uma experiência enfadonha.