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Nos anos 1960, no auge da Guerra Fria, os EUA e a atual Rússia queriam mostrar qual deles detinha o maior poder econômico e tecnológico do planeta. Esse fato gerou uma forte tensão em todo o mundo para o início do que poderia vir a ser a Terceira Guerra Mundial. Em razão disso, o Departamento de Defesa dos EUA tinha uma preocupação em como guardar e compartilhar seguramente seus dados sigilosos entre suas bases militares, caso alguma delas fosse alvo de um ataque inimigo.
Nesse contexto é que foi desenvolvida pela Agência de Pesquisa e Projetos Avançados (Advanced Research Projects Agency - ARPA) uma rede que interligava os computadores das bases militares norte-americanas situada no Pentágono. Assim, foi criada, em 07 de abril de 1969, a ARPANET, um sistema de comutação de pacotes computacionais. A esse fato histórico estão relacionados dois grandes motivos de alegria: o primeiro, como aprendemos nos livros de História, é que o tal ataque, que geraria uma guerra devastadora, nunca aconteceu ; o segundo, que influenciou o contexto atual, é que esse projeto é considerado o precursor da nossa internet!
Mas a internet da Era dos Memes e dos Emojis, como a conhecemos, dificilmente teria existido se o projeto da ARPANET não tivesse sido interligado a universidades que passaram a explorar os potenciais daquela nova TI. Sair de um contexto militar para um acadêmico favoreceu o crescimento e desenvolvimento da internet. Afinal, além de ser objeto de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, a rede não tinha mais a forte e exclusiva preocupação de segurança nacional e pôde se tornar mais flexível para pesquisas e testes. Assim, pesquisadores, estudantes e demais pessoas que tinham acesso e interesse por aquela nova tecnologia passaram a ter a oportunidade de contribuir para aprimorá-la.
Você sabia que o dia 29 de outubro de 1969 é considerado a data de nascimento da internet?! Isso porque, nesse dia, a primeira mensagem entre computadores foi enviada da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) para o Instituto de Pesquisa de Stanford (SRI). Infelizmente, a mensagem com a palavra LOGIN não foi completada, pois o computador do SRI parou de funcionar após receber a letra O.
As primeiras universidades ligadas à ARPANET foram a UCLA e o SRI, seguidas pela Universidade de Utah e pela Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (UCSB). No final da década de 1970, a ARPANET havia crescido tanto, que precisou substituir o protocolo de comutação de pacotes original para o, ainda hoje utilizado, TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol - Protocolo de Controle de Transmissão/Protocolo de Internet). Considerando que protocolos são regras, de acordo com esse modelo a principal regra da internet, ainda hoje, é que cada dispositivo tenha a sua identificação para acessar e estar na rede, ou seja, seu número IP, uma espécie de documento de identidade dos dispositivos computacionais.
A imagem abaixo retrata o projeto lógico da ARPANET, em 1977, quando as universidades já faziam utilização da rede. Nela é possível observar as ligações entre os pontos de computadores. Observando essa imagem, não é difícil entendermos o porquê de a metáfora web (teia) ser comumente usada para fazer referência à internet.
No início dos anos 1980, com os ânimos da Guerra Fria acalmados, o Departamento de Defesa Norte-americano dividiu a ARPANET. Desse modo, foram criadas a MILNET, que continuou designada para ações militares, e a ARPA-Internet para fins acadêmicos, que em pouco tempo perdeu o prefixo ligado à agência do Pentágono e passou a ser denominada como conhecemos hoje. A partir de investimentos da National Science Foundation (NSF), foram criados backbones, termo pelo qual são conhecidos os supercomputadores que conectam outras linhas da rede menores para dar fluxo aos dados. Assim como nossa estrutura óssea, que liga nossa cabeça aos membros inferiores e que é conectada a vértebras e a estruturas que nos dão sustentação, os backbones da estrutura da internet são fundamentais.
Depois de perceber que não se tratava mais de um projeto voltado para fins exclusivamente públicos, permitiu-se que backbones de empresas particulares fossem integrados à internet, desde que garantissem a mesma estrutura de funcionamento. Algumas dessas empresas são os provedores de internet, os quais contratamos para termos acesso aos serviços da web. Por isso, quando nos conectamos à internet e enviamos uma mensagem para um colega em outro ponto do planeta, o caminho que os dados percorrem é: nosso dispositivo (computador, tablet ou smartphone) → nosso provedor de internet → backbone nacional → backbone estrangeiro → provedor de internet do colega → dispositivo do colega. A figura abaixo representa esse percurso.
Você pode imaginar que o avanço da internet não parou nesse ponto. Afinal, o uso que era feito da grande rede de computadores, fazendo uma analogia bem reducionista e superficial, era limitado ao que serviços de chat e e-mail fazem hoje. Ou seja, a internet era usada para compartilhar e trocar dados e informações. O grande salto da internet se deu no início dos anos 1990 com Tim Berners-Lee e o seu serviço de world wide web. Isso mesmo: o triplo W que vemos em quase todos os sites da internet. Esse serviço oportunizou a criação dos web-sites e foi considerado, por muitos, a maior invenção tecnológica em 40 anos, depois da televisão.
A base do www é o protocolo de transferência de hipertexto, ou seja, o http presente em sites da internet. Esse protocolo define o tipo de serviço que estamos solicitando da rede. Os detalhes do HTTP você conhecerá quando falarmos sobre os navegadores web.
O curioso desse resgate histórico é percebermos que a internet, a qual ressignificou o mundo dos negócios e comércio e hoje gera muitas riquezas, não nasceu na iniciativa de capital privado, mas em instituições públicas e com pessoas que defendiam a socialização do conhecimento. Como destaca Castells (2003, p. 19) "(...) a Internet nasceu da improvável interseção da big science, da pesquisa militar e da cultura libertária". Foi devido a essa característica de sua concepção que a internet chegou ao modelo como a conhecemos hoje: livre, aberta, democrática e sem donos!
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