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arrow_back Aula 03 - Hello, Mr. Anderson! Conectando-se à TI.

Arquitetura da Matrix: dado, informação, conhecimento e competência

Agora que você já construiu um conceito para tecnologia e percebeu que ela pode ser tanto rival quanto não rival, avançaremos no entendimento desses conceitos aplicados à TI. Para tanto, vamos retomar o tema da linguagem e relacioná-la com dados, informações e conhecimentos. Já começou a perceber a relação com a tecnologia da informação?!

Utilizamos a linguagem em sua expressão oral, escrita e também digital (KENSKI, 2008). A linguagem oral é caracterizada como imaterial, pois não pode ser tocada e nem possui matéria ou insumos físicos para sua produção e acesso, conforme estudamos há pouco. Assim, basta um emissor e, preferencialmente, um receptor para que a informação seja transmitida. Nesse mesmo sentido, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) também é uma tecnologia imaterial, ainda que não seja oral. Afinal, ambas independem de suportes externos a nós para reprodução e demandam, apenas, que os interlocutores compartilhem dos mesmos códigos de representação das informações, no caso, o idioma.

Já as linguagens escrita e digital (afinal, elas também são uma espécie de linguagem, e veremos adiante o porquê) são tecnologias parcialmente imateriais, pois só podem ser registradas e transmitidas com suporte de outras tecnologias, aliás, materiais. Afinal, por mais que você queria, é impossível usar a escrita ou mesmo um software sem os devidos meios para acessá-los. Embora sejam imateriais, tais tecnologias, diferentemente das línguas orais ou sinalizadas (gestuais), demandam recursos para objetivá-las, os quais correspondem, respectivamente, ao papel e à caneta, à lousa e ao pincel ou a dispositivos como computador, tablet e smartphone. Geralmente são essas as tecnologias materiais que primeiramente vêm à nossa mente para conceituarmos e citarmos como exemplo. Entretanto, elas vão além do campo da eletrônica e da informática e, além das materiais, temos as tecnologias plenas e parcialmente imateriais.

Vimos também que a base das tecnologias imateriais digitais é o bit, uma sequência de dados escritos em 0 e 1 (linguagem digital) entendida pela máquina. É o que a Matrix vê, mas interpreta e passa para nós em formato inteligível. O que é transmitido é justamente a informação, à qual atribuímos significados e, particularmente, mesmo interagindo com outras pessoas, convertemos em conhecimento. A apropriação do conhecimento é que nos torna capazes de realizar e desenvolver algumas tarefas, demonstrando habilidade e competência para tanto.

Ao aprendermos a transformar bens culturais em meio digital, por meio do código binário, ampliamos o acesso e oportunizamos a que mais pessoas pudessem consumir conteúdo e informação e, então, ampliar seu repertório cultural, seus saberes e suas habilidades. Atualmente, utilizando a internet, nos é possível ler Hamlet de Shakespeare, contemplar a tela da Monalisa de Leonardo DaVinci, ouvir a Quinta Sinfonia de Beethoven e assistir à trilogia completa de Matrix a partir de diferentes dispositivos computacionais. Evidentemente, apenas o acesso não é suficiente para transformarmos dados e informações em conhecimentos que nos gerarão habilidades e competências. Você pode imaginar o porquê?

Figura 08 - Transformação de bens culturais em meio digital

É por essa característica que frequentemente essas tecnologias são chamadas de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC). Por meio delas, podemos acessar mídias digitais (tecnologias parcialmente imateriais e bens não rivais) que armazenam informações interpretadas por nós, as quais, de certa forma, nos comunicam algo a partir dos dados presentes e operados pelos dispositivos computacionais.

Com isso, você deve ter percebido que dado, informação, conhecimento e competência são conceitos que, embora relacionados, são distintos (SETZER, 2015). Mas será que você já consegue definir cada um deles e perceber como se relacionam com a TI? Não? Pois analise a figura abaixo, relativa à representação desses conceitos, e procure fazer algumas inferências:

Dado, Informação Conhecimento e Competência

Certamente você já conseguiu fazer algumas relações desses termos com a área de TI, hein? Deu para perceber a ligação entre um conceito e outro? Que tal conferir se suas proposições estão coerentes? A seguir, as definições dos termos, adaptadas de Setzer (2015):

Dado

Sequência de símbolos quantificáveis que pode ser reproduzida em meio digital praticamente sem diferença entre ela e os símbolos originais. Lembrou dos bens não rivais, não foi?! É isso mesmo. Toda mídia digital é um dado, escrito em código binário. Imagens, áudios, vídeos, softwares, entre outros são dados interpretados pelo computador e reproduzidos de forma inteligível para nós. Até então ele só possui o sentido de registro (sintática), sem significado. Afinal, a máquina ainda não faz análises subjetivas como nós, não é mesmo?

Informação

Atribuição de sentido (semântica), no âmbito cognitivo, que fazemos a um dado a partir do estabelecimento de relações com uma rede de significados que possuímos. Esta frase que você está lendo, por exemplo, resultado de uma interpretação de uma sequência de 0 e 1 realizado pelo dispositivo computacional, só lhe faz sentido pelo fato de você dominar os códigos ortográficos e gramaticais da língua portuguesa e o significado que cada palavra carrega. Если бы это было написано на русском языке, я думаю, что это не имело бы смысла для многих из нас!1

Conhecimento

Produto das relações e ligações, portanto, relativo à organização que cada um de nós faz das informações acessadas. Por isso, o conhecimento não é transmitido, mas sim a informação, e ter acesso a ela não é suficiente para adquirir conhecimento. Posso ser (e fui) informado sobre muitas coisas, sobre as quais, por não serem significativas para mim, não construí conhecimento (ou, se construí, foi restrito). Conhecimento é uma construção pessoal, em nível cognitivo, a partir das informações acessadas por meio das vivências de cada um de nós. Para Setzer (2015), se a informação é semântica, o conhecimento está associado "com pragmática, isto é, relaciona-se com alguma coisa existente no 'mundo real' do qual se tem uma experiência direta".

Competência

Capacidade que temos de realizar uma atividade a partir dos conhecimentos apropriados relativos a ela. Habilidades e competências, portanto, são objetivadas com base na demonstração de um comportamento e na execução, geralmente bem-sucedida, de determinada tarefa no dia a dia. Ao final deste curso, por exemplo, esperamos que você e seus colegas sejam bons profissionais de TI, o que será perceptível a partir das habilidades e competências que demonstrarão em atividades laborais.

Esses conceitos mostram que a área de TI se preocupa em organizar e tratar os dados por meio de sistemas computacionais. Esses dados, apresentados a nós para atribuirmos caráter de informações, possuem valor social e econômico cada vez maior em nossa sociedade. A cada dia é gerada uma grande quantidade de dados. Imagina, então, como é gerenciar todo esse conteúdo?! Para isso, é envolvida no processo a Tecnologia da Informação, com uma série de atividades e soluções computacionais voltadas para obtenção, armazenamento, gerenciamento, acesso e uso das informações por nossa parte! A nós cabe a apropriação das tecnologias desenvolvidas para otimizar as práticas laborais, tornar os processos produtivos mais eficientes, ampliar nossas capacidades e garantir melhor qualidade de vida.

Curiosidade

Com toda a evolução da pesquisa e todo o desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial (IA), ainda não há um Agente Smith que consiga superar a capacidade de abstração e criação de qualquer Sr. Anderson. A capacidade de ler além das palavras é inerente à nossa mente, por meio de nossa linguagem e inteligência. Afinal, como acabamos de ver, as máquinas "só" conseguem dar conta do registro e gerenciamento de um grande volume de dados. O significado das informações, a produção de conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades e competências, por ora, ainda é restrita a nós, seres humanos.

É… Mas essa realidade parece cada vez mais próxima! Em março de 2014 um sistema de IA, chamado Quakebot, desenvolvido pelo repórter Ken Schwencke, do Los Angeles Times, registrou um terremoto sobre o qual o próprio sistema escreveu uma reportagem em poucos segundos. Veja um trecho traduzido da reportagem produzida pelo algoritmo:

Um terremoto de baixa magnitude 4,7 foi relatado na manhã de segunda-feira, a cinco milhas de Westwood, Califórnia, de acordo com o U.S. Geological Survey. O tremor ocorreu às 6:25 a.m. horário do Pacífico a uma profundidade de 5.0 milhas.

De acordo com o USGS, o epicentro estava a seis milhas de Beverly Hills, Califórnia, a sete milhas da Universal City, Califórnia, a sete milhas de Santa Monica, Califórnia, e a 348 milhas de Sacramento, Califórnia. Nos últimos dez dias, não houve terremotos de magnitude maiores que 3,0 centrados nas proximidades.

Esta informação vem do Serviço de Notificação de Terremotos do USGS e esta publicação foi criada por um algoritmo escrito pelo autor. (OREMUS, 2014, tradução nossa).

Curioso, não? Pois confere a reportagem abaixo que relata esse fato com maiores detalhes:

A primeira reportagem sobre o terremoto em Los Angeles foi escrita por um robô. Fonte: OREMUS, Will. The first news report on the L.A. earthquake was written by a robot. Stale, 17 mar. 2014. Disponível em: <http://www.slate.com/blogs/future_tense/2014/03/17/quakebot_los_angeles_times_robot_journalist_writes_article_on_la_earthquake.html. Acesso em: 17 ago. 2017.

Mas não precisa ficar preocupado(a), pois, ainda por um bom tempo, dificilmente um sistema de IA conseguirá produzir textos e reportagens mais profundos. A partir da própria notícia elaborada pelo algoritmo é possível perceber (sem minimizar ou menosprezar a solução desenvolvida) que o Quakebot gerencia dados e atribui algum significado apenas àqueles que são mensuráveis, como é o caso da magnitude do terremoto e da distância existente entre as cidades e os eventos. A informação em si, somos nós que estabelecemos a partir da leitura, a qual nos permite construir alguns conhecimentos sobre o fato relatado. Uma reportagem com análise crítica, considerando aspectos semânticos e variáveis de ordem subjetiva, ainda ficará a cargo e será competência de repórteres de carne e osso…

Encerramos aqui mais uma aula da nossa disciplina! Esses fundamentos serão necessários para sua participação no curso e para sua futura atuação profissional! Estou certo de que você consegue perceber as especificidades do conceito de tecnologia bem mais do que antes, não?! Que tal fazer um pequeno check-list do que aprendeu aqui? Até mais!

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